
O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, garantiu na sexta-feira (3) que a estatal não vai mais deixar de operar no Rio Grande do Norte e vai focar no segmento de energias renováveis. Mais que isso, determinou a suspensão do processo de transferência dos trabalhadores que ficaram sem seus postos após a venda dos ativos da empresa no Estado. A intenção é transformar o Rio Grande do Norte na sede do ofshore eólico da Petrobras.
A estatal já havia anunciado que deixaria o Estado após a venda de sua participação nas 22 concessões de campos de produção terrestres e de águas rasas localizadas na Bacia Potiguar. A negociação feita com a empresa 3R Potiguar, subsidiária integral da 3R Petroleum Óleo e gás, rendeu US$ 1,38 bilhão. Além das concessões e suas instalações de produção, está inclusa na transação a estrutura de refino integrada ao processo de produção de óleo e gás, composta pela Refinaria Clara Camarão, localizada em Guamaré (RN), com capacidade instalada de refino de 39.600 bpd.
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Os anúncios do presidente, contrários ao previsto, foram feitos durante encontro realizado na sede da unidade regional da estatal em Natal, com a governadora Fátima Bezerra (PT). “Neste novo governo vamos retomar os investimentos e, além de manter as áreas de prospecção, produção, refino e comercialização, vamos acrescentar atividades de energias renováveis que serão sediadas em Natal. A Petrobras não vai sair do RN”, afirmou Jean Paul Prates.
O plano dele é transformar o estado na sede das atividades de Energias Renováveis da estatal. “Vamos fortemente para o offshore eólico. Vamos ser o líder do offshore eólico do Brasil. A sede do offshore eólico da Petrobras vai ser aqui no Rio Grande do Norte. Quem quiser vim conversar sobre eólica com a Petrobras terá que vim a Natal”, enfatizou.
A sede em Natal, segundo ele, passaria por alienação já que as atividades estariam encerradas. “Mas isto muda agora, com o novo Governo federal e a nova direção da companhia”, afirmou.
Leia maisO detalhamento de como as operações da estatal serão mantidas no Estado e o fortalecimento das ações no mercado offshore ainda não foram reveladas.
A reunião contou também com o vice-governador Walter Alves, secretários estaduais, como Jaime Calado, do Desenvolvimento Econômico e Marina Melo, presidente da Potigás; além de deputados estaduais. Da Petrobras, o gerente da Unidade de Negócios no RN e CE (UN-RNCE), Marcelo Nóbrega e o gerente executivo de terra e águas rasas, Pedro Marinho, também estavam lá.
A governadora Fátima Bezerra comemorou a decisão da estatal permanecer operando no Estado. “Vejo esta decisão como responsabilidade social da empresa, oportunidade de aproveitar o imenso potencial que o Estado possui, que ainda é vantajoso para petróleo e gás com a exploração do campo de Pitu e, principalmente, nas energias renováveis on e offshore e hidrogênio e amônia verdes”, afirmou.
Ela solicitou que a Petrobras coloque em pauta a exploração do campo de Pitu, no litoral norte do Estado, com a perfuração de poços em águas profundas e superprofundas e o retorno do fornecimento de gás à Potigás.
Com a confirmação da continuidade da Petrobras no RN, Fátima decidiu reativar o comitê de trabalho formado por técnicos do Estado e da petrolífera para superar entraves e viabilizar processos e investimentos. “O comitê estava parado por falta de interesse da Petrobras. Agora vamos retomar os trabalhos e fomentar o desenvolvimento econômico e social com geração de riqueza, inclusive no processo de transição energética que favorece o RN por ter as melhores condições sol e vento do mundo”, disse ela.
Transferência de funcionários está suspensa
Jean Paul Prates também participou de evento com os empregados da Petrobras no Estado e reforçou a importância do Rio Grande do Norte. Ele ainda anunciou a suspensão do processo de transferência de pessoal da unidade da Petrobras no RN para outros Estados.
“As transferências estão suspensas. Os funcionários e suas famílias podem ficar tranqüilos. A Petrobras vai continuar operando no Rio Grande do Norte, onde está há 50 anos, e vai ampliar os investimentos aqui”, declarou. A alocação dos empregados atenderá as necessidades do planejamento de atividades para a unidade.
Depois do encerramento das atividades da petrolífera no Estado, cerca de 500 trabalhadores do Polo Potiguar aguardam transferência para unidades de outros estados, de acordo com o Sindicato de Petroleiros e Petroleiras do RN (Sindipetro).
Ao todo, o Polo Potiguar abrigava 2.800 funcionários, dos quais 2.300 já foram transferidos. O sindicato reclama da falta de transparência nas alocações de funcionários e diz que o processo tocado pela Petrobras está beneficiando gestores e cargos mais altos, que acabam escolhendo destinos conforme a preferência. Os petroleiros foram remanejados para estados como Ceará, Pernambuco, Alagoas, Espírito Santo, São Paulo e Rio de Janeiro. A grande maioria foi trabalhar nas plataformas do pré-sal.
“A categoria hoje reivindica a suspensão imediata desse plano de transferência e a revisão da saída da Petrobras do nosso Estado. Nós queremos que a Petrobras cancele a saída e se mantenha aqui no nosso Estado. Fizemos um ofício e mandamos para a Petrobras e o Ministério de Minas e Energias com esse pleito”, destacou Pedro Lúcio, secretário-geral do Sindipetro.
Quanto a isso, a governadora Fátima Bezerra avaliou que essa decisão representa “respeito ao servidor que é o maior patrimônio que a Petrobras tem, por que foram eles e elas que fizeram a grandeza da empresa”. Ela também destacou o caráter estratégico e estruturante para o país, estados e municípios da companhia na promoção do desenvolvimento gerando milhares de empregos.
Relembre
Quando anunciou a intenção de deixar o RN em agosto de 2020, a Petrobras reforçou que o foco de atuação era a produção em águas profundas, deixando assim os campos maduros. Em comunicado, a companhia informou na ocasião que a “operação está alinhada à estratégia de otimização de portfólio e melhoria de alocação do capital da companhia, passando a concentrar cada vez mais os seus recursos em águas profundas e ultra profundas, onde a Petrobras tem demonstrado grande diferencial competitivo ao longo dos anos”.
Segundo a Petrobras, a produção média do Polo Potiguar de janeiro a junho de 2020 foi de aproximadamente 23 mil barris de óleo por dia (bpd) e 124 mil m³/dia de gás natural.
Um ano depois, a 3R Petroleum divulgou que a celebração da transação estava sujeita ao sucesso das negociações, além das aprovações corporativas necessárias e da anuência dos órgãos reguladores competentes. A venda foi assinada em janeiro do ano passado por US$ 1,38 bilhão – valores superiores a R$ 7 bilhões na conversão direta – para a empresa 3R Petroleum Óleo e Gás S.A.
O Conselho de Administração da Petrobras aprovou a venda da totalidade de sua participação. A empresa pagou US$ 110 milhões no momento da assinatura e se comprometeu a quitar mais US$ 1,04 bilhão no fechamento da operação, além do pagamento de US$ 235 milhões de forma parcelada até 2027.
A 3R Petroleum afirma que está pronta para assumir a operação, prevista para acontecer no primeiro semestre deste ano e considera as operações no Rio Grande do Norte “estratégicas para o plano de negócios da Companhia, que prevê a extensão da vida útil das concessões adquiridas no estado, bem como um intenso ciclo de investimentos para os próximos dez anos de operação.”
Tribuna do Norte