Depois de um ciclo de seis cortes seguidos de 0,5 ponto percentual, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decidiu reduzir o ritmo de reduções da taxa básica (Selic) e cortou os juros em 0,25 p.p para 10,5% ano nesta quarta-feira. A decisão foi dividida. Esta foi a primeira vez desde agosto de 2023 que o Copom tem uma decisão que não é unânime. Aquela ocasião marcou o atual ciclo de redução da Selic
O Copom voltou a apontar riscos nas duas direções em seu balanço de riscos, em comunicado divulgado hoje, fazendo pequenas alterações em relação ao texto do anterior, de março.
“O Comitê avalia que as conjunturas doméstica e internacional devem se manter mais incertas, exigindo maior cautela na condução da política monetária”, diz o documento.
Em março, havia dito que “o Comitê avalia que as conjunturas doméstica e internacional estão mais incertas, exigindo cautela na condução da política monetária”.
Os itens do balanço de riscos são iguais, sem mudanças de texto. Do lado altista, cita “uma maior persistência das pressões inflacionárias globais” e “uma maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um hiato do produto mais apertado”.
Já entre os riscos de baixa, ressalta “uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada” e “os impactos do aperto monetário sincronizado sobre a desinflação global se mostrarem mais fortes do que o esperado”.
O colegiado ainda avaliou que o ambiente externo está mais adverso por conta da incerteza “elevada e persistente” sobre o início da flexibilização da política monetária nos Estados Unidos e da “velocidade com que se observará a queda da inflação de forma sustentada em diversos países”.
Leia maisDe acordo com o comunicado, os bancos centrais das principais economias continuam determinados em promover a convergência da inflação para as metas “em um ambiente arcado por pressões no mercado de trabalho. Na avaliação do comitê, o cenário ainda exige cautela dos países emergentes.
O colegiado deixou de citar, no comunicado, a importância da execução das metas fiscais para a condução da política monetária.
No encontro anterior, realizado em março, o Copom disse: “Tendo em conta a importância da execução das metas fiscais já estabelecidas para a ancoragem das expectativas de inflação e, consequentemente, para a condução da política monetária, o Comitê reafirma a importância da firme persecução dessas metas”.
Agora, o comunicado diz: “O Comitê reafirma que uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida contribui para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de risco dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política monetária.
No documento divulgado hoje também afirma que “acompanhou com atenção os desenvolvimentos recentes da política fiscal e seus impactos sobre a política monetária”.
A decisão veio dentro do que a maior parte do mercado estava esperando. Pesquisa feita pelo Valor com 118 instituições financeiras mostrou que 78 esperavam um corte de 0,25 ponto percentual na Selic e outras 40 projetaram redução de 0,5 ponto.
Na reunião de março, quando cortou os juros em 0,50 ponto, para 10,75% ao ano, o BC havia sinalizado que “em se confirmando o cenário esperado”, os membros do comitê “unanimemente” anteviam redução de mesma magnitude “na próxima reunião”.
Já naquela ocasião, o comunicado do BC alertava para a elevação da incerteza e consequente necessidade de maior flexibilidade na condução da política monetária. Desde então, a incerteza no cenário externo se elevou com a mudança de perspectiva sobre as taxas de juros nos Estados Unidos, projetadas para continuarem altas por mais tempo.
No Brasil, houve o impacto no mercado da alteração da meta fiscal de 2025 pelo governo, que passou de um superávit de 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB) para déficit zero. A meta de 2026 também mudou, de superávit de 1% do PIB para 0,25%.
A ata do Copom será divulgada na próxima terça-feira às 8h. O Copom se reúne novamente em 18 e 19 de junho.
Valor Econômico